E ai gente,
então, eu escrevo algumas short stories de vez em quando e minha ideia é postá-las aqui pra vocês lerem.
Essa é a primeira de várias hahaha.
Se você quer ler, clique em "leia mais".
A
água da pia saía escorrendo até suas mãos gélidas. Queria deixá-las debaixo da
água morna por mais tempo afim de esquentá-las.
Um
baque surdo vindo de fora do banheiro foi seguido pela voz de sua mãe que
parecia censurar alguém. Um de seus filhos, pensou. Devem ter derrubado algo
enquanto lutavam entre si com as almofadas natalinas.
Era
noite de natal, sua família estava reunida em seu pequeno chalé de inverno no
norte, onde a neve caía como véu, cobrindo as ruas, as casas e transformando os
lagos em gelo.
Quando
criança, não conseguia imaginar um outro dia no ano que se sentisse tão extasiada
quanto a noite de natal. Os presentes coloridos postos ao redor da árvore
cintilante, a lareira aconchegante, as luzes coloridas, as pilhas de doce que
sua avó trazia para ela. Fazia anos que não se sentia mais assim no natal.
Fazia
anos que não se sentia assim em nenhum dia.
Quando
suas mãos já estavam tornando-se avermelhadas do calor, desligou a torneira e
virou-se para pegar a toalha. Estava pronta para sair do banheiro quando seus
olhos fixaram-se no espelho.
Demorou-se
alguns instantes admirando a paisagem por trás do esplho. Não refletia mais seu
frio banheiro de visitas, por trás dele brilhava um largo campo de flores
amarelas, que se estendiam pelo o que pareciam quilômetros sem fim.
Sem
acreditar totalmente em seus olhos, ela se aproximou novamente da pia, ficando
em frente ao espelho. Mas a paisagem continuava a mesma por trás dele. Esfregou
os olhos e olhou-o de novo. Campos de flores amarelas, moviam-se levemente,
como se uma calma brisa de verão passasse por elas.
Tornou
a olhar para a porta azulada do banheiro, que, caso ela atravessasse, a levaria
diretamente a sala de visitas, onde encontraria sua família, reunida.
Mas
algo no espelho a chamava, e dessa vez, não só o olhou, mas estendeu sua mão
para tocá-lo. Ao invés de sua mão encostar em uma superfície dura e gelada, ela
atravessou o espelho com facilidade.
Parou
por um momento encantada com sua descoberta, então subiu na bancada da pia e
atravessou o espelho completamente.
Agora
do outro lado, encontrava no campo interminável de flores. Eram tulipas.
Tulipas e mais tulipas. Espalhando-se pelo horizonte, não havia mais nada, não
até onde seus olhos pudessem alcançar.
Caminhou
lentamente pelo campo, sentindo a brisa de verão, maravilhada. Fechou os olhos
e ergueu os braços, inspirando profundamente, sentia-se vivamente viva.
Quando
os reabriu, notou no solo, em meio as milhares de tulipas, uma única planta
diferente. Um dente de leão.
Quando
menor, era uma grande crente na ideia de que, caso assoprasse suas brancas
folhas, seus desejos se realizariam.
Ela
sorriu ao ver a planta, mas lembrou-se do espelho que a trouxera lá.
Virou-se
para ele, pairando no ar, já estava a uma certa distância, mas podia enxergar
os azulejos brancos do banheiro através dele, se se concentrasse, poderia ouvir
as vozes que saíam do buraco do espelho, que vinham da sala.
Ela
voltou-se novamente para o dente de leão e arrancou-o do chão, levou-o até um
centímetro de seus lábios rachados antes de fechar os olhos e assoprar sobre
suas brancas folhas. Ao abrir, elas já estavam flutuando pela paisagem.
Com
o caule ainda seguro nas mãos, deitou-se no solo, entre as tulipas, que a
rondavam, o espelho havia desaparecido, e ela sorria para o céu turquesa
sentindo-se extasiada.
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